Cardeal brasileiro já foi escolhido para ser Papa, mas recusou o cargo: entenda o motivo histórico
A história da Igreja Católica guarda segredos e curiosidades que surpreendem até mesmo os fiéis mais atentos. Uma dessas histórias pouco conhecidas envolve o cardeal brasileiro Dom Aloísio Lorscheider, que, em 1978, chegou a ser escolhido durante um conclave para ocupar o posto mais alto do catolicismo: o de Papa. No entanto, por motivos de saúde, ele recusou o cargo, tornando-se um dos poucos cardeais da história a ter essa oportunidade e declinar.
Quem foi Dom Aloísio Lorscheider?
Nascido na cidade de Estrela, no Rio Grande do Sul, Dom Aloísio Lorscheider era neto de imigrantes alemães. Ingressou na vida religiosa cedo, teve uma trajetória sólida na Igreja e foi nomeado cardeal pelo Papa Paulo VI em 1976. Ele ocupou importantes cargos na hierarquia católica, como arcebispo de Fortaleza e, mais tarde, de Aparecida. Também foi presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM).
Ao longo de quase 60 anos de sacerdócio, foi reconhecido por sua humildade, sabedoria e compromisso com os pobres e com as causas sociais, sendo uma figura respeitada no Brasil e no exterior.
A surpreendente escolha no conclave de 1978
Após a morte repentina de João Paulo I, que ficou apenas 33 dias no papado, a Igreja enfrentava uma nova escolha difícil. Durante o conclave que se seguiu, Dom Aloísio Lorscheider obteve dois terços dos votos dos cardeais, o número necessário para se tornar o novo Papa. Contudo, surpreendendo a todos, ele recusou o cargo.
De acordo com o teólogo Frei Betto, a razão foi sua saúde debilitada: o cardeal havia passado por uma cirurgia delicada e tinha oito pontes de safena. Temendo um novo papado de curta duração e o impacto que isso causaria à Igreja, decidiu renunciar à escolha, em um gesto de responsabilidade e humildade.
O papel decisivo de Lorscheider na eleição de João Paulo II
Segundo o livro “Papa João Paulo II – A Biografia”, do jornalista americano Tad Szulc, Dom Aloísio teve um papel estratégico na eleição de Karol Wojtyła, que viria a ser o Papa João Paulo II. Ao declinar da escolha, ele articulou com cardeais latino-americanos e africanos para transferir os votos e garantir uma nova liderança forte para a Igreja.
João Paulo II assumiu o papado em 1978 e permaneceu no cargo até 2005, tornando-se um dos papas mais longevos da história.
Morte e legado de Dom Aloísio Lorscheider
Dom Aloísio faleceu em 23 de dezembro de 2007, em Porto Alegre, aos 83 anos, após um mês internado devido a complicações que resultaram em falência múltipla dos órgãos. Seu nome e sua história marcaram o catolicismo brasileiro e ainda hoje são lembrados com respeito.
Sua importância é tamanha que chegou a ser citado em uma das cenas do filme O Poderoso Chefão 3, de 1991, que retrata os bastidores políticos e espirituais do Vaticano.
Brasileiros no conclave atual: há chance de um Papa brasileiro?
Com o falecimento do Papa Francisco, teve início um novo conclave no Vaticano para definir o próximo líder da Igreja Católica. O processo de escolha é feito de forma sigilosa na Capela Sistina, e conta atualmente com 133 cardeais eleitores, entre eles sete brasileiros.
Entre os nomes que ganham destaque, está o de Dom Sergio da Rocha, arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil. Nomeado cardeal em 2016, ele é membro do C9, o conselho de nove cardeais que assessora diretamente o Papa na reforma da Igreja.
Segundo o jornal francês Libération, Dom Sergio é um dos nomes cotados como possível candidato a Papa. Entretanto, ao ser questionado sobre o assunto, ele preferiu manter a discrição:
“Nesse momento, não temos muito a dizer sobre o conclave. Temos o que falar sobre o Papa Francisco. O conclave está nas mãos de Deus. Certamente, o Espírito Santo irá conduzir os cardeais eleitores para a decisão que Deus quer para a Igreja”, afirmou.
Conclusão: o Brasil pode ter um Papa?
A história de Dom Aloísio Lorscheider mostra que o Brasil já esteve muito perto de ter um Papa. E, com nomes como Dom Sergio da Rocha entre os favoritos, a possibilidade de um Papa brasileiro continua viva. Seja qual for o resultado, a eleição papal segue como um momento decisivo para os rumos da Igreja no mundo.