Agam Rinjani: o guia que desafiou o impossível no resgate de Juliana Marins
Em meio à comoção pela morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, um nome se destacou pela coragem e generosidade: Agam Rinjani. Guia local e experiente alpinista, Agam tornou-se símbolo de solidariedade ao se voluntariar, sem apoio governamental, para tentar resgatar a jovem brasileira que havia caído em uma encosta íngreme do vulcão.
Mesmo diante de condições extremas, com chuvas intensas, terreno instável e frio nas alturas, Agam liderou uma missão por conta própria. Ao lado de um companheiro, percorreu longas distâncias diariamente em meio à neblina e ao perigo constante. A área onde Juliana caiu fica a mais de seis horas de caminhada do início da trilha, em um trecho remoto e difícil do Parque Nacional do Monte Rinjani.
O guia chegou a montar um acampamento improvisado próximo ao local do acidente. Nas imagens compartilhadas em suas redes sociais, é possível ver o esforço logístico: barracas, cordas, capacetes e outros equipamentos utilizados na tentativa de salvar Juliana. Tudo foi feito com recursos próprios, impulsionado apenas pela vontade de ajudar.
No limite do possível
Agam relatou que ele e outros voluntários passaram uma noite inteira com Juliana à beira de um penhasco de cerca de 590 metros, utilizando âncoras para evitar que ela deslizasse ainda mais. Durante a missão, sofreu ferimentos na perna e enfrentou momentos de grande risco, incluindo a queda de pedras causada pelo deslizamento do terreno.
Em uma transmissão ao vivo no Instagram, com a ajuda de uma tradutora, ele descreveu os momentos de tensão:
“O risco de vida era real. Eu e os outros voluntários sabíamos que poderíamos morrer”, afirmou Agam.
“Gostaria de ter feito mais. Peço desculpas, mas fiz o que pude.”
A voluntária Sinthia Stepani, que acompanhava a tradução, contou que os voluntários seguraram o corpo de Juliana durante toda a madrugada, em meio à chuva e ao frio. Muitos só conseguiram comer por volta da uma da manhã, em meio ao cansaço e à dor.
Uma história de coragem diante da tragédia
Juliana Marins foi encontrada morta na terça-feira (24), quatro dias após cair durante uma trilha. Natural de Niterói (RJ), ela estava em um mochilão pela Ásia desde fevereiro e havia visitado Filipinas, Tailândia e Vietnã. O acidente ocorreu no Monte Rinjani, quando ela fazia a trilha acompanhada de uma amiga. As últimas imagens mostram Juliana comentando que “a vista valeu a pena”.
Após a queda de cerca de 300 metros, Juliana ainda apresentava sinais de consciência. Três horas depois, turistas a localizaram visualmente e conseguiram enviar à família imagens e coordenadas. No entanto, o socorro demorou. Juliana teria permanecido sozinha na montanha por quase quatro dias, escorregando progressivamente pela encosta.
Drones chegaram a identificá-la em diferentes pontos. O corpo foi finalmente encontrado 650 metros abaixo do ponto original da queda, já sem sinais de vida.
A trajetória de Juliana, marcada por sua paixão por viagens e natureza, agora se entrelaça com a de Agam Rinjani — um guia que, com poucos recursos e muito coração, enfrentou o impossível. Mesmo diante de um desfecho trágico, sua atitude emocionou milhares de brasileiros, tornando-se símbolo de empatia, coragem e humanidade.