O Brasil recebeu uma notícia comovente sobre um dos maiores ícones da música: Milton Nascimento, de 82 anos, foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy (DCL). A informação foi confirmada por seu filho e empresário, Augusto Nascimento, que explicou que esta será a única vez que a família irá se pronunciar publicamente sobre o assunto.
Como surgiram os primeiros sinais
Os sintomas começaram a aparecer de forma discreta no final de 2023. Com o passar dos meses, as alterações ficaram mais evidentes, o que levou a família a procurar ajuda médica. Em abril de 2024, após uma bateria de exames, veio a confirmação do diagnóstico.
Augusto relatou que percebeu mudanças no comportamento do pai: lapsos de memória, olhares prolongados e sem foco, repetição das mesmas histórias e até alterações no apetite. Esses sinais o alertaram para a possibilidade de algo mais sério.
Vale lembrar que, em 2022, Milton já havia sido diagnosticado com Parkinson, uma condição frequentemente associada à DCL. Ambas estão ligadas ao acúmulo anormal de proteínas no cérebro, que afeta funções cognitivas e motoras.
Emoção e vida em família
Em meio ao impacto da notícia, Augusto compartilhou momentos de grande emoção com o pai. Um dos episódios mais marcantes foi uma viagem de motorhome pelos Estados Unidos, na qual percorreram cerca de 4 mil quilômetros passando por estados como Arizona, Utah, Idaho, Wyoming e Montana.
Milton, conhecido por sua sensibilidade única, descreveu a experiência como “a melhor viagem da vida dele”. Para Augusto, essas memórias se tornaram ainda mais valiosas diante da condição atual.
O filho também revelou situações do dia a dia que mostram o vínculo profundo entre os dois. Apesar das dificuldades de comunicação, pequenos gestos falam mais alto:
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Milton só aceita certas refeições quando é Augusto quem as prepara.
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Muitas vezes, prefere segurar a mão do filho em silêncio, como forma de transmitir carinho.
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Mesmo em meio a esquecimentos e frases incompletas, o afeto permanece intacto.
Com emoção, Augusto declarou:
“Eu te amo e sempre amarei, paizinho.”
O que é a demência por corpos de Lewy?
A demência por corpos de Lewy é uma condição causada pelo acúmulo anormal da proteína alfa-sinucleína no cérebro. Esses depósitos, chamados “corpos de Lewy”, comprometem áreas responsáveis pela memória, pensamento, comportamento e movimento.
Ela representa entre 10% e 15% dos casos de demência no mundo, sendo considerada a terceira mais comum, atrás apenas do Alzheimer e da demência vascular.
Um ponto importante é a ligação estreita entre a DCL e o Parkinson. A diferença entre os diagnósticos costuma estar na ordem de surgimento dos sintomas:
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Quando os problemas cognitivos aparecem antes ou junto com os motores, fala-se em DCL.
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Quando os sintomas motores (como tremores e rigidez) vêm muito antes das alterações cognitivas, a tendência é diagnosticar Parkinson.
Principais sintomas da DCL
Além da perda de memória, a doença pode provocar uma série de manifestações:
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Alucinações visuais e distúrbios sensoriais
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Oscilações de atenção e confusão mental
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Problemas de percepção espacial e desorientação
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Distúrbios do sono, com sonolência excessiva durante o dia
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Depressão, ansiedade ou apatia
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Sintomas motores semelhantes ao Parkinson, como tremores, rigidez e marcha arrastada
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Alterações no sistema nervoso autônomo, que afetam pressão arterial, digestão e até controle da bexiga
Tratamento e cuidados
Ainda não existe cura para a DCL nem formas de impedir sua progressão. Porém, diversos tratamentos ajudam a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida:
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Medicamentos para amenizar alucinações, sonolência e tremores
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Fisioterapia e terapia ocupacional para preservar mobilidade e autonomia
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Fonoaudiologia para auxiliar na comunicação
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Psicoterapia e estimulação cognitiva para trabalhar memória, atenção e linguagem
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Uso de inibidores da colinesterase, também empregados no Alzheimer, que podem trazer benefícios em alguns pacientes
Embora não revertam a doença, essas medidas oferecem mais conforto, segurança e qualidade de vida tanto ao paciente quanto à família.
Um legado eterno
Apesar das limitações impostas pela doença, o legado de Milton Nascimento segue intocado. Sua voz e suas canções marcaram gerações e continuam sendo trilha sonora da vida de milhões de brasileiros.
A notícia de seu diagnóstico, embora dolorosa, também trouxe à tona o reconhecimento da importância de se falar sobre saúde mental e envelhecimento.
Milton sempre foi símbolo de sensibilidade, poesia e amor. Agora, cercado de carinho pela família, mostra mais uma vez sua força diante das adversidades da vida.