Quando o coração fala mais alto: Samir confessa a Candinho o que sente
Em meio a tantos conflitos e reviravoltas em Êta Mundo Melhor!, surge um dos momentos mais delicados da trama: o instante em que Samir, com toda a sua infância marcada pela ausência, revela a Candinho um desejo tão profundo quanto doloroso — o de ter um pai.
Num dia aparentemente tranquilo no orfanato, Candinho aproveita para brincar com as crianças que vieram visitá-lo. Riso, leveza, conversas simples… mas há algo diferente em Samir. Ele está mais introspectivo, os olhos distantes. Candinho percebe essa mudança e, com toda a naturalidade que o caracteriza, pergunta:
— “Uai, Samir, ocê tá tão caladinho hoje… que que foi, sô?”
O menino hesita, evita o olhar — e então, com voz embargada, faz seu desabafo:
— “Eu… eu queria sê mesmo seu filho.”
A simples frase explode com significado. Candinho, visivelmente surpreso, tenta reagir.
— “Oxe, mas que conversa é essa, menino?”
Samir respira fundo e, com a honestidade pura de quem sente sem disfarces, conta o que o coração carregou por tanto tempo:
— “É que o senhor é bom. O senhor ajuda todo mundo, fala com jeito, não maltrata ninguém. Eu nunca tive pai… e se eu pudesse escolher um, queria que fosse o senhor.”
As palavras são simples — mas atingem em cheio. Candinho tenta disfarçar a emoção na voz:
— “Ô, Samir… num fala assim que ocê me amolece o coração, sô.”
O garoto sorri timidamente:
— “É verdade… Todo mundo no orfanato gosta do senhor. Mas eu gosto mais.”
Quando ele completa:
— “Porque o senhor trata a gente como gente de verdade… e eu sempre imaginei que meu pai fosse um homem assim…”,
o silêncio toma conta. Só quem está ali sabe o peso daquela revelação.
Candinho, não conseguindo conter o sentimento, se abaixa, encara o menino com ternura e finalmente declara:
— “Pai não é só quem põe no mundo, não. Pai é quem cuida, quem se importa, quem tá do lado. E se ocê me vê assim… então pode me considerar um pai de coração, viu?”
Samir sorri e abraça o caipira com toda a força.
— “Obrigado, Candinho!”
O abraço sela mais do que um momento: sela um vínculo profundo, carregado de esperança, amor e tragédia. Porque, para quem acompanha a trama, sabe que há um segredo ainda maior por trás desse diálogo. Samir é, na verdade, o filho perdido de Candinho — embora nenhum dos dois tenha essa certeza ainda.
Por que essa cena é tão marcante?
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Vulnerabilidade e identidade: o desabafo de Samir capta todo o anseio de uma criança por pertencimento. Ele não fala de herança ou riquezas, mas de afeto — de ser tratado como gente, de existir para alguém.
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A força silenciosa de Candinho: sua resposta não é grandiosa, nem cheia de discursos — é simples, humana e pura. Ele oferece presença e amor, independentemente de certezas ou laços oficiais.
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O mistério que aproxima: o fato de o público já saber que Samir é filho de Candinho cria uma tensão dramática poderosa. Todas as atuações, todos os olhares e frases pequenas ganham peso.
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Expectativa e emoção: o leitor/espectador passa a observar cada cena seguinte em busca de pistas, coincidências, reações que confirmem o que o coração já suspeita.